segunda-feira, 25 de maio de 2015

Audiência pública debate proibição da publicidade infantil

O assunto foi discutido por diferentes entidades favoráveis e contrárias ao projeto de lei 5921, que propõe
o fim da publicidade infantil. A matéria deve ser votada pela CCJC nas próximas semanas.

A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), da Câmara dos Deputados, discutiu na manhã desta quinta-feira (21), em audiência pública, o projeto de lei nº 5.921/01 que visa criar regras claras para proibir a publicidade dirigida ao público com menos de 12 anos. O debate enriquecedor, com diferentes atores da sociedade civil, contribuiu para esclarecer a questão e deixar transparentes as posições sobre o assunto. O PL 5921, autoria do deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), tramita há quase 14 anos na Câmara dos Deputados. O texto tem como relator na Comissão o deputado Arthur Oliveira Maia (SD-BA) e deve ser votado pela CCJC nas próximas semanas.
O Presidente do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), Gilberto Leifert, falou sobre a relevância do órgão na prevenção dos “eventuais” abusos da publicidade infantil. “A publicidade brasileira vem cuidando dos consumidores com responsabilidade. A propaganda brasileira está submetida a regras mais rigorosas que a maioria dos países desenvolvidos”, defendeu Leifert. Ele também afirmou que o CONAR analisa todas as denúncias que recebe e vem atuando com bastante eficácia desde 1977, ano em que foi criado.
Mariana Sá, mãe e representante do Movimento Infância Livre de Consumismo (MILC), argumentou que recorreu ao CONAR para denunciar uma publicidade abusiva, mas não funcionou. “A gente fez uma denúncia ao CONAR, que demorou três meses para ser analisada. Isso não é rápido o suficiente”, disse. No final de sua fala, Mariana Sá pediu aos deputados que levem em consideração o apelo de grande parte da sociedade civil, pais e mães, que não são atendidos em suas demandas pelo modelo de autorregulação que existe hoje, inclusive pelo CONAR. E ainda pediu que o diálogo se mantenha aberto e que os integrantes da mesa possam conversar até chegar a uma solução que, de fato, olhe para a infância.
O desenhista Ziraldo, que também compôs a mesa, afirmou que o Brasil não precisa de mais leis sobre publicidade infantil e que a responsabilidade é dos pais. “O Brasil é de longe o que mais aprova regulações, autorregulamentações e leis nesse sentido, por isso essa lei é inútil. Deixa a sociedade, deixa o pai decidir. Filho não exige nada do pai que tem consciência de como educar seu filho”, argumentou Ziraldo.
O advogado do Instituto Alana, Pedro Hartung, participou do debate defendendo o fim da publicidade direcionada ao púbico infantil. Ele abordou a legislação vigente que defende os direitos da criança e ressaltou que elas devem ser prioridade absoluta dos interesses da Nação, como aponta o artigo 227 da Constituição Federal. “Há um projeto de país que foi desenhado desde a promulgação da Constituição Federal, em 1988, e o que a gente busca é que esse projeto seja levado a cabo. Qual é ele? Que o superior interesse da criança seja colocado em primeiro lugar pela família, pela sociedade e pelo Estado, antes de qualquer outro interesse, especialmente o comercial. O que está em jogo não é o fim da publicidade, mas o redirecionamento dela para os adultos, os responsáveis por fazer a mediação com as crianças”, explicou Hartung.
Também participaram do debate Mariana Ferraz, Advogada e Consultora do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC); Sandra Martinelli, Vice-Presidente da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA); e Otávio Luiz Rodrigues Júnior, representante da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT).

Abaixo você encontra o vídeo desta discussão na íntegra...


quarta-feira, 20 de maio de 2015

A turma vai saber como tomar notas

Apesar de pouco presente nas salas de aula, o estímulo à tomada de notas é imprescindível. A melhor maneira de ensinar esse procedimento é inseri-lo em um projeto, de forma contextualizada, ou seja, com a finalidade de anotar conteúdos que depois serão retomados. "Essa aprendizagem não é adquirida de forma imediata ou automática, por isso o professor precisa trabalhar intencionalmente para desenvolvê-la", explica a pesquisadora argentina Mirta Castedo. Foi exatamente o que fez Tenessi Lopes Ramos Leite, professora do 3º ano da EE Professor Jorge Rodini Luiz, em Ribeirão Preto, a 315 quilômetros de São Paulo. Num projeto sobre animais de jardim, as notas produzidas foram usadas para preparar uma apresentação e apoiar a fala da garotada, além de servirem na redação de painéis sobre os bichos estudados.

Para começar, Tenessi apresentou à turma um texto introdutório sobre o assunto que seria estudado. Na aula seguinte, todos leram o mesmo texto em duplas, grifando as partes mais importantes e elaboraram as primeiras notas, com os pontos principais. Elas foram feitas no caderno de anotações que cada um manteve durante o projeto. Como já tinham noção do que eram verbetes, os alunos começaram a separar as informações mais importantes, que seriam usadas nos painéis sobre os animais expostos durante a apresentação. Em seguida, veio a parte mais importante da sequência: a tomada de notas com base na exposição oral da professora. Visando fazer a classe entender que registrar os conteúdos era importante para poder consultar as informações e estudar, Tenessi planejou oferecer, durante as aulas expositivas, informações às quais as crianças ainda não tinham tido acesso. Como esses conhecimentos foram passados oralmente, elas tinham como única opção fazer apontamentos no caderno, individualmente.

Anotando com autonomia 

Nesse tipo de atividade, o desafio é capturar o que é pertinente e anotar de forma legível para rever depois. "A tomada de notas é uma forma particular de escrita, na qual não se põe tudo, e sim se destacam algumas palavras que aludem a ideias ou conceitos", diz Mirta. Para estimular a garotada a fazer isso, Tenessi usou várias estratégias. No começo, ela direcionava os apontamentos lembrando que os estudantes precisavam escrever e perguntando a eles o que achavam que devia ser registrado sobre uma explicação. "Eu falava normalmente até que eles se acostumassem com o fato de que a velocidade da fala era maior do que a da escrita. Ou seja, que eles teriam de selecionar somente algumas partes para anotar." Questões como "O que parece importante disso que estou falando?" podem ajudar nesse momento. Outra dica é registrar termos específicos no quadro para favorecer a tomada de notas. 

A professora se preocupou também em lembrar as crianças de que aquela não era uma atividade de ditado, pois elas deveriam registrar os conteúdos de forma independente. Com intervenções como essa, a garotada entendeu a tarefa. "O mais legal é que a gente podia inventar as palavras. Não tínhamos de escrever igualzinho ao que a professora dizia", diz Gabriel Orlandini, 8 anos. Durante a exposição oral, é preciso também ser claro, objetivo e evitar digressões, que podem dispersar a criançada. 

Ao fim de cada uma das seis aulas expositivas, Tenessi convidava a garotada a ler suas notas em voz alta. Todos discutiam a respeito do que haviam escrito. "Esse momento foi muito rico. Eles ficavam atentos para complementar os registros com base no compartilhamento feito pelos colegas", afirma a professora. Além disso, os apontamentos são um excelente material para a avaliação. "O professor pode conferir neles se realmente ensinou o que gostaria e da forma que gostaria", diz Denise Guilherme, formadora de professores e curadora do Leitura em Rede, grupo sobre literatura infantojuvenil. 

A turma ainda observou que algumas formas de registro deixavam o conteúdo mais claro, facilitando a compreensão. As notas "as borboletas se-alimentam de plantas por que elas são herbívoros" e "a borboleta se-alimenta de plantas polém", por exemplo, fazem referência ao mesmo conteúdo, mas a segunda tem mais detalhes. Outro exemplo semelhante: "a borboleta vive na cidade grande" e "Borboletas urbanas é borboletas que vive em cidades, jardins de ruas."(leia mais notas na página seguinte). "Essa situação permite à classe voltar aos conhecimentos, identificar lacunas e contradições, comparar informações e refletir sobre elas", diz Renata Frauendorf, formadora do Instituto Avisa Lá. 

Nas aulas seguintes, a classe foi convidada a levar materiais para complementar a pesquisa, como jornais e revistas. A própria professora já tinha separado fontes de consulta. Todos trocaram ideias e informações com base nas notas tomadas sobre os conteúdos e, principalmente, sobre as aulas expositivas. Cada um contava o que havia registrado e, juntos, destacavam quais eram as informações mais importantes. Com o material, os alunos montaram um roteiro dos conteúdos que seriam expostos por cada grupo, além dos textos informativos sobre os animais. Eles também participaram de atividades preparatórias para o dia da apresentação: simularam a situação em sala, lembrando uns aos outros de informações que anotaram, mas não foram contempladas pela explicação do grupo. No dia do evento para a comunidade escolar, inicialmente se apoiaram no caderno e no painel, mas logo depois ficaram confiantes para falarem sozinhos. 

No fim do projeto, a garotada tinha adquirido o hábito de tomar notas espontaneamente. No início deste ano, Tenessi recebeu uma boa noticia: a professora do 4° ano, Mislene Nascimento Almeida, comentou que a classe estava fazendo anotações muito ricas sobre os conteúdos que ela ensinava e que a prática estava sendo essencial para a confecção de resumos.

20 de Maio - Dia do Pedagogo

Hoje, 20 de maio, é comemorado o Dia Nacional do Pedagogo. Essa data foi instituída em 2010 para celebrar a importância e o esforço desse profissional.

Ser Pedagogo, com certeza, é ser muito mais do que um Professor, Coordenador, Supervisor e Orientador. É ser responsável.

O Pedagogo é corajoso, porque talvez seja uma das profissões que mais enfrentam desafios no dia a dia. Ser Pedagogo é lidar com as divergências todos os dias, sem preconceitos, sem distinções. O pedagogo tem umas das maiores responsabilidades dentre todas as profissões: ser responsável por futuros médicos, engenheiros, veterinários, jornalistas, administradores, entre tantos outras profissões.

Ser Pedagogo é muito mais do que ser apenas um profissional. É alguém que acredita mais do que ninguém no futuro da sociedade, no mundo, da vida.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Alguns benefícios didáticos do Jogo de Xadrez

O Cérebro é como um músculo; se usado Desenvolve e se fortalece, caso contrário, atrofia, fossiliza...
"Sem Questionamento torna-se impossível alcançar o Discernimento..."

Parece que um dos grandes problemas dos nossos tempos é a visão quase sempre parcial que temos das coisas à nossa volta. Isso normalmente ocorre porque valorizamos a especialização. Desde cedo somos condicionados a buscar na especialização uma resposta para todos os nossos problemas. Mas, ao contrário do se pensa, isso acaba por limitar de forma dramática nossa visão do mundo, uma vez que passamos a ver tudo como fragmentos. 

É como se olhássemos o mundo de uma janela e a parte visível representasse tudo o que existe. Se emocionalmente, diante de cada situação reagimos de uma maneira bem peculiar, assim como nós, todas as outras pessoas têm seu próprio modo de reagir às mesmas situações. Pode-se constatar isso facilmente através da observação das nossas preferências, particularidades, medos, e assim por diante. 

Um dos grandes desafios do educador deveria ser a formação de alunos dentro de uma filosofia integral. Por integral entendemos, enxergar o movimento da vida como uma coisa só, em transformação, nunca estática, sempre dinâmica, e não encarcera pela fragmentação, como é a visão especialista. Entendemos que a vida como um todo retrata todas as faces do indivíduo, suas crenças, os medos, os conflitos, as incertezas, a angústia, e todo sofrimento ao qual ele está sujeito, sem, contudo, desprezar sua biologia. Mas não podemos ignorar que o seu processo psicológico merece uma atenção especial. 

Não podemos compreender um ente humano tomando como base apenas uma parte do seu comportamento, a exemplo de uma postura social, situação étnica, ou mesmo a partir de uma preferência ideológica. Ele é tudo isso e muito mais; mais do que podemos perceber com nossos sentidos ordinários, ou nossa mente condicionada, amordaçada pela especialização. 


De certo modo somos orientados desde cedo a seguir uma carreira, a pensar dentro de uma caixa de métodos, segundo uma doutrina ou conjunto de regras, o que acaba se tornando o nosso mundo. Um mundo privado e cercado pelas muralhas desse repertório de conhecimento, que representa todo nosso saber, e atrás das quais nos escondemos. E isso acaba por nos confortar, criando acomodação, pois é um terreno sempre conhecido; é como se além daquilo nada mais existisse. 

Entender que a vida é dinâmica e está sempre em transformação, que é um mundo onde as alternativas ou opções mudam de posição constantemente, assim como exige o próprio ir e vir do viver, capacita o estudante a ter uma mente mais flexível, com disposição para se renovar sempre. Isso o facultará a acompanhar com mais realismo este incrível movimento impossível de ser contido. 

Uma mente flexível sabe que as alternativas são reais, e nunca se contenta com respostas prontas. É por natureza curiosa, está sempre aberta ao que é novo. O raciocínio lógico, de algum modo, capacita o jovem a pensar logo em alternativas, como possíveis respostas para seus problemas.
Essa visão o impede de tomar decisões precipitadas em sua vida adulta, pois saberá que para todo problema sempre haverá uma solução, e muitas alternativas para se chegar a ela. Uma mente com esse perfil estará mais capacitada para lidar com a dinâmica da vida. 


Um dos maiores dilemas do ser humano é sentir-se encurralado diante de uma situação qualquer. Nesse momento, sua mente não consegue raciocinar de uma forma lógica, coesa, racional, e os pensamentos se tornam mais ou menos fixos, recorrentes; ficarão gravitando em torno de um mesmo ponto, ou ideia, enfatizando as implicações do problema, como se estivesse presa numa espécie de vácuo mental. 

Nesse caso, desaparecem as respostas prontas, e como que por encanto não conseguirá vislumbrar alternativas. Uma espécie de engasgo temporário, do qual aquela mente não consegue se libertar é o efeito esperado. Isso acontece na maioria das vezes, devido ao condicionamento rígido que valoriza a visão fragmentária das coisas, de forma inflexível, presa à especialização. 

E quase nunca somos capazes de ver um problema a partir da sua origem. E tentamos solucioná-lo a partir dos seus efeitos, o que é um grande erro, uma vez que as consequências de um problema, na maioria das vezes, não representa o problema em si.

Essa visão parcial limita nosso pensar; limita nossas ações diante de questões simples ou complexas. O indivíduo que se especializa numa determinada área do conhecimento, decerto terá uma visão bastante restrita de tudo que não diga respeito aos seus domínios. E embora isso seja um fato óbvio, nunca é tratado como uma das razões da angústia e conflitos humanos. 

Uma visão parcial só é capaz de criar um indivíduo temeroso de tudo que possa encontrar além da sua área de atuação, ou domínios. Sentir-se-á naturalmente inseguro diante de qualquer situação fora do seu escopo cognitivo.
Será por natureza conservador, e sempre dependente de outros para guiar seus passos fora daquilo que conhece. Um indivíduo inflexível, que dificilmente conseguirá ser feliz diante de uma vida, que está sempre em movimento, sempre a se diversificar, em constante renovação.
Diante de cada problema, possibilidades múltiplas precisam ser consideradas. Essa bem que poderia ser a primeira orientação que deveríamos passar para nossos filhos e alunos. Isso resolveria o problema das verdades únicas, que afloram mundo afora, criando verdadeiras legiões de fanáticos cativados pela alienação. 

Teríamos um jovem sempre questionador, sempre disposto a aceitar, mas não apenas porque aquilo lhe foi imposto, e sim porque assim concluiu, depois de analisar dentre todas as possibilidades, que uma questão é capaz de suscitar. Seguir sem questionar é fácil, é o que a maioria faz. Mas um indivíduo só se torna questionador quando sabe que para cada questão, há sempre uma solução, dentre as inúmeras perspectivas, ou rotas, possíveis de conduzir ao desfecho. 

Isso quer dizer que, uma mesma questão, apesar de ter apenas uma solução, terá sempre vários caminhos possíveis de conduzir até ela, e nunca apenas um. Isso pode parecer banal, mas normalmente, diante de um problema, ele emperra porque só consegue vislumbrar a solução que mais o favoreça, e sempre dentro dos limites do seu perímetro de atuação. E por isso deixa de fora os caminhos alternativos, que também o conduziria a essa mesma solução. O caminho único pode limitar a ação, mas diante de alternativas viáveis, acabará por encontrar uma que se mostre mais adequada ao seu perfil e temperamento, aquela onde poderá exercitar todo seu potencial criativo. 

Uma visão mais ampla, quer dizer alguém que seja capaz de enxergar, não apenas o adversário que está diante de si, mas também todo ambiente à sua volta, e todos os demais protagonistas que façam parte da cenografia. Enfim, o maior número de detalhes do ambiente onde se desenvolve a trama, e seus possíveis desdobramentos. Essa perspectiva faculta uma quantidade maior de respostas. 

A visão geral da situação, onde também se inclui o adversário ou problema, permite que se faça uma melhor avaliação da pauta em questão, ampliando o espectro de suas consequências, quais as opções mais perfiladas com a possível solução. Com isso, pode-se até concluir que aquilo nem era um problema. Uma visão limitada e restrita de uma questão pode nos colocar diante de uma situação com cara de problema, sem que de fato o seja. 

Um jogador de Xadrez tem diante de si problemas, situações que se apresentam, de um modo inicial, como de difícil solução. Mas, eis que ao erguer seus olhos, ele pode vislumbrar mais adiante, ter uma visão panorâmica do problema. Ao ver o campo de ação por inteiro, ele poderá apreciar melhor o desafio que tem diante de si; a distribuição de suas variáveis, os caminhos que poderá tomar. Ali ele é capaz de avaliar, minimizar ou eliminar, os possíveis efeitos colaterais de suas decisões, e o mais importante, conhecer todos os recursos dos quais dispõe para tentar solucionar a questão. 

Poderá prever se as soluções que imagina terão o efeito desejado. Terá ainda diante de si, as possíveis consequências de cada caminho que escolher. Ele tem uma visão privilegiada, e por inteiro, da situação. Pode reconstituir todos os passos, de modo que o conduzam à raiz daquele obstáculo, e diante dos fatos, pode finalmente aprender sobre os eventuais desfechos das falhas já cometidas, que venham ou viriam a ocorrer. Poderá ainda prever como superar, no futuro ou no agora, cada dificuldade que se apresente diante de si. 

Para se aprender da forma adequada, a atenção disciplinada é sem dúvida a qualidade mais importante. O jogo de Xadrez se propõe a despertar em primeiro lugar, entre seus praticantes, esse essencial estado de vigília. Isso tornará o jogador um observador qualificado, mais atencioso com os detalhes, mais criterioso e lúcido, sagaz e capaz em suas decisões. 

Sua visão se renova. Seu modo de pensar se amplia, e terá a seu favor dois fatores mais que importantes na solução de qualquer questão da vida. Um deles é a lógica que o ensinará a sistematizar e organizar uma questão antes de tentar resolvê-la. A outra é a versatilidade ou flexibilidade, atributo de uma mente aberta, ágil, que está sempre disposta a experimentar as novas possibilidades, as alternativas, além daquelas já existentes, para solucionar uma mesma questão. 

Na visão tradicional, perfilada pelo condicionamento delimitador de cada um, temos diante de nós muitas soluções prontas para antigos e novos problemas. Se os problemas nunca se renovassem seria um cenário de mundo perfeito. Mas os problemas estão sempre mudando de forma, e as antigas soluções se mostram obsoletas, incapazes de resolver a questão.

Sendo orientado para, a partir do todo se chegar à parte, o jovem praticante de Xadrez desenvolve a capacidade de antecipar situações possíveis de criar problemas. Logo, ele se torna mais capaz, não só de evitar futuros obstáculos, mas também de solucioná-los. 

Uma mente vigorosa, ativa, cheia de músculos sinápticos bem desenvolvidos, é o benefício imediato de quem mentalmente articula muitos caminhos e possibilidades para se chegar a um objetivo. É a mesma coisa de um autor de ficção, a criar uma trama onde, por exemplo, o personagem principal, ao caminhar por uma estrada cheia de obstáculos, tivesse que tratar cada um, de uma maneira sempre nova, o que não seria possível com uma mente inflexível. 

Nessa prática, devemos ainda enfatizar, que o jogo apesar de ser uma competição, não precisa tornar-se uma disputa. A atividade serve de instrução para os dois jogadores, e nesse contexto, não existe aquele que perde e outro que ganha, mas apenas dois aprendizes que estão se qualificando na arte de tomar decisões.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

10 verdades sobre castigos infantis que talvez você não Conheça

Uma pedagogia doente só é capaz de produzir mais doença...

"Se vistos com olhos imparciais, na verdade, os problemas são apenas testes de campo para comprovar nossa acuidade criativa..."

Em primeiro lugar, um comportamento infantil indesejável raramente é espontâneo. Isso quer dizer que ele não nasceu como parte integrante da criança. Na maioria das vezes são inspirações herdadas, assimiladas, a partir da própria mesologia, seja no ambiente doméstico ou de convivência do portador.

Outro ponto importante são as atitudes dos adultos em relação aos indisciplinados, uma vez que a reação imediata são os ineficazes gritos, ou os castigos que ao invés de educarem deseducam. E não são raros os casos onde o pequeno infrator, além de não se corrigir, se corrompe ainda mais, o que acaba por criar um verdadeiro círculo vicioso, onde o educador agora se torna co-autor naquele processo de acentuação da deformidade comportamental da criança problemática.

Por isso mesmo, saber castigar é preciso. Não basta ter boa intenção, é necessário conhecer uma técnica, que além de educar seja incapaz de criar traumas e patrocinar mais problemas. Apenas lembrando que, o castigo deve ter sempre como objetivo o esclarecimento cognitivo, de modo que a criança se conscientize, de forma pedagógica e prática, da falha pessoal que deve ser reparada.

Criança não é burra, apenas imatura. Logo, exceto nos casos onde exista uma demência confirmada ou tenha idade inferior a três anos, já é capaz de compreender o que é errado ou certo. Mas irá precisar de um adulto consciente e disposto a informá-la sobre essas coisas.

Eis a seguir uma pequena lista de dicas, abordagens educativas, que embora tenham aparência de castigos, poderão se tornar eficientes práticas cognitivas na formação da personalidade infantil. O objetivo das orientações é ajudar a corrigir os comportamentos patológicos, que se desprezados podem evoluir para a delinqüência.

Claro que as dicas poderão ser ampliadas ou adaptadas para cada caso. 
Eis a lista.
  • Se não quiser que a criança brigue com seu irmão, diga para ela o que você deseja que faça, ou seja: “Cuide bem do seu irmão.” Para uma criança, o “não pise na grama” é um convite à prática da infração. Já a expressão: “Pise fora do gramado”, também funciona como um convite à prática do procedimento correto.
  • O tradicional castigo onde o pequeno infrator é colocado sentado em um local do qual não poderá se ausentar por um período de tempo, este, embora ainda largamente aplicado, é dos mais ineficazes. Ali não há o sentimento de punição, e em pouco tempo a criança adquire resistência, e ainda não muda de atitude.
  • Para que o castigo seja eficaz é preciso que a criança tenha a certeza de que vai perder alguma coisa, a exemplo de uma conquista ou privilégio que já possui. O castigo do cativeiro não representa uma perda de fato, mas apenas a privação temporária de sua liberdade, que será restaurada tão logo o tempo de reclusão acabe. Por isso tem um efeito apenas simbólico, mas sem nenhuma eficácia educativa ou corretiva.
  • E o único castigo positivo é o corretivo. E corretivo quer dizer didático, esclarecedor, que acrescente alguma coisa à cognição da criança; algo útil à sua personalidade. Não se enquadrando em nenhuma dessas condições, não é positivo. Lembre-se, o castigo não é uma punição, e sim uma forma inteligente de ensinar alguma coisa aos que não conseguem assimilar através do aprendizado tradicional.
  • E como a intenção do castigo é forçar a criança a prestar atenção a uma orientação, que de outro modo ela não o faria, o processo só terá o êxito pretendido se ela tiver receio de perder algum benefício concreto que já possui, como, por exemplo, limitação do uso do computador, ou do tempo diante da televisão. Assim, suspender o uso do equipamento por algumas horas, ou durante um dia inteiro, é uma boa prática.
  • Privá-la de brincar com os amigos, ou de assistir seus vídeos favoritos, e em casos mais extremos, até de comer sua sobremesa favorita, também tem seu valor. Com criatividade podemos ampliar a lista de “punições” cognitivas para uma infinidade de procedimentos, sem causar grandes traumas.
  • Importante também é não fazer que aquilo pareça um ato de vingança pessoal, sem motivos. Devemos ainda ficar atentos para os casos onde, entre irmãos, diante de uma mesma infração, penas diferenciadas são atribuídas. Nesse caso, o efeito ao invés de educativo se tornará negativo, e tende a criar revolta e antagonismos dentro do ambiente doméstico.
  • Esclarecer, de forma clara e convincente, sobre os motivos do castigo, e o mais importante, numa linguagem que a criança seja capaz de compreender, faz parte do processo. Histórias pessoais ou fábulas edificantes poderão ser usadas como exemplos. Se coloque no lugar de cobaia, relate episódios de sua vida que possam ser usados como ilustrações. No exemplo pessoal, não aconselhamos o modelo comparativo, onde outra criança é usada como referência ou espelho de boa conduta, ou o seu inverso.
  • Lembre-se, a criança problemática já convive com conflitos pessoais sérios, muitos deles relacionados com a autoestima, e a comparação tende a acentuar ainda mais seu quadro psicopatológico. Por outro lado, esclarecer sobre as possíveis conseqüências de um ato negativo, tem grande valor. Mas, nada se compara com os esclarecimentos sobre os eventuais e benéficos desdobramentos de um ato positivo.
  • Outro ponto importante: não devemos cair na armadilha de confundir com castigo as obrigações e deveres naturais de cada um, tais como, arrumar a própria cama, ajudar em pequenas tarefas domésticas, ou acordar cedo para ir à escola. Se agirmos dessa forma, estaremos ensinando à criança que o ato de trabalhar ou de cumprir com os deveres necessários e obrigatórios, representam um castigo, uma espécie de calvário ou martírio. Finalmente, não se limite aos conselhos que acaba de aprender; use sua própria imaginação e criatividade no exercício de sua pauta disciplinadora ou magistério doméstico. Afinal de contas, o centro de convivência caseira ainda é o melhor ambiente para se educar sem traumatizar.

O Mau Comportamento Infantil

A IRRITAÇÃO e a FRUSTRAÇÃO de um Adulto diante das eventuais ações de Crianças mau comportadas, tendem a agravar esse Mau Hábito, criando assim um verdadeiro Círculo Vicioso que perpetua a coisa.
Esse pequeno episódio, comum no dia a dia de muitos, bem que pode servir como ilustração...



Lembrando sempre que criança nenhuma aprende alguma coisa, o que quer que seja, sem uma fonte que possa lhe servir de referência. Essa fonte pode ser um adulto, um irmão mais velho, a televisão, etc.
Engana-se quem considera aprendizado apenas as coisas úteis. Vale esclarecer que instrução, que é o meio pelo qual se aprende qualquer coisa, pode ser negativa ou positiva, e tudo isso é material cognitivo na mente imatura de uma criança. Informação cognitiva pode ser coisa inútil, ou útil, e tudo isso é instrução, orientação, sugestão de como fazer.

Sabemos como são as crianças, especialmente os irmãos, que muitas vezes exageram nas brincadeiras.
E eis que a Criança pratica um gesto, atitude, ação, que possamos chamar de Mau Comportamento...
A coisa pode ser uma situação comum, mas considerada de mau gosto, por exemplo, entre irmãos...

Vide o exemplo dos jovens, ou mesmo adultos, muitas vezes supostamente já esclarecidos, e ainda assim vulneráveis às correntes negativas, ainda sujeitos aos condicionamentos deformados, como os vícios pelas drogas, pelo jogo, e outros desvios morais. Agora imagine a mente de uma criança, um terreno vazio, sem discernimento algum, um livro com suas páginas ainda em branco, onde se pode escrever qualquer coisa.
Maus hábitos se aprendem primeiramente em casa, e depois são aperfeiçoados na rua. Sem predisposição para a coisa, o processo não vai adiante. Assim, tendo o exemplo, a sugestão, a referência, a incitação que surge ao seu redor, logo encontrará na rua o apoio que precisa para dar continuidade à prática na qual já foi iniciado.

Então entra em cena, o Adulto, mostrando toda sua Raiva, Indignação e Frustração diante do fato.
E ele explode, xinga, chama palavrões e outras coisas, mas não conversa, como se os gritos fossem a solução para o problema...
A Criança, naturalmente habituada com aquilo, apenas houve, mas sem se importar com o que é dito.


Pais que não se posicionam abertamente contra um mau hábito diante dos seus filhos, sendo que eles próprios precisam servir de exemplo, também, de forma indireta, estão apoiando os desvios comportamentais. Se a ideologia praticada em nossa casa, pelos nossos pais e irmãos mais velhos não for coisa construtiva, logo, o mundo lá fora se encarregará de contaminá-las com suas ideias e posturas absurdas.

Diante disso, a Criança se sente Superior, e pensa:
"A mais importante e poderosa pessoa na minha vida, nada pode fazer para me corrigir..."
Ou pensa...
"A mais importante pessoa na minha vida, não sabe o que fazer para lidar comigo..."
Ou pensa...
"É fácil deixar os adultos bravos; tê-los em minhas mãos é um trunfo!"

Com bom exemplo em casa, e nesse caso as palavras só não bastam, nada do mundo lá fora será capaz de desviar a conduta dos nossos filhos. Bom exemplo significa boa ética e atitude pessoal, firme posicionamento contra as deformações sociais e manias bizarras, e a presença diária no convívio com os filhos. Diante de tudo isso, eles estarão encapsulados, blindados, contra o forte assédio das influências negativas que brotam de todos os lados, na sociedade patológica onde vivemos. 

Isso vai criar em sua mente um Conceito Negativo a respeito de si mesmo.
E ela pensa:

"Se nem os adultos sabem lidar comigo, talvez EU seja um caso perdido..."
Diante de tais situações, é possível quebrar este Círculo Vicioso, deixando de lado a RAIVA sem valor educacional, pela Tristeza sincera, ou pela Empatia do diálogo.


quinta-feira, 7 de maio de 2015

Risquinho, bolinha ou número para contar


Um bom trabalho didático sobre o sistema de numeração e registros escritos deve prever situações em que as crianças possam explorar as diversas formas de notação, refletir sobre a adequação de cada uma delas em relação às necessidades e discutir sobre o significado da representação por meio dos números. Foi esse o caminho que Aline Dezengrini de Souza propôs para a sala de pré-escola da EEI do Sesc, em Santo Ângelo, a 435 quilômetros de Porto Alegre. 

Aline levou uma coleção de carrinhos para a sala e pediu que cada um escrevesse em uma folha quantos havia. Vários tipos de registro surgiram: representações dos carrinhos, bolinhas, pauzinhos e algarismos. Alguns perceberam que os colegas estavam anotando de formas diferentes e ficaram desconfortáveis com a situação, dizendo: "Ele está fazendo errado!" e "Pode ser do jeito que ele fez?".

Começaram, então, a apagar o que haviam escrito e Aline interveio: "Por que você está apagando? Acha que o jeito que o colega anotou é melhor do que o seu?". Uma garota justificou ter desistido de desenhar bolinhas porque carrinhos eram uma forma mais bonita de registrar. Outra, que tinha anotado com pauzinhos, disse que demorava mais para desenhar. 

Aline começou, então, a problematizar as quantidades. Separou a turma em duplas para que pudessem comparar suas notações. Crianças que marcaram errado resolveram riscar os carrinhos a mais e outras apagar. Houve ainda quem desenhasse tudo outra vez. A professora questionou por que fazer isso, mesmo que alguns estivessem certos e disse que havia a opção de acrescentar ou diminuir marcações. 

Susana Wolman, no livro Letras y Números: Alternativas Didácticas para Jardín de Infantes y Primer Ciclo de la EGB (256 págs., Ed. Santillana, sem tradução para o português), reproduz a discussão entre uma educadora e a sua turma sobre se um algarismo poderia representar mais de um objeto. Ainda que os pequenos concordassem que números eram boas formas de registro, achavam que cada algarismo poderia representar um único objeto. "Compreender a utilização dos algarismos é um processo que leva tempo e requer uma diversidade de situações que envolvam distintos usos dos números: como código, para indicar localização e ordem de atendimento, entre outros usos sociais.

O professor deve explorar quais estratégias são mais eficientes para cada situação", explica Priscila Monteiro, consultora pedagógica da Fundação Victor Civita (FVC).


Guerra dos dados 

Outra atividade interessante usando registros escritos de quantidades foi feita por Andreia Amorim dos Santos, que leciona na EMEI Maria Alice Pasquarelli, em São José dos Campos, a 90 quilômetros de São Paulo. Ela apresentou à sala o jogo guerra dos dados. Para começar a brincadeira, formou dois grupos, que seriam adversários. Em todas as rodadas, um integrante de cada equipe jogava o dado e anotava a pontuação obtida no quadro. O grupo vencedor seria aquele que atingisse mais pontos. 

Na hora de descobrir quem havia vencido, a professora pediu que um membro de cada grupo fosse até o quadro e contabilizasse os pontos. Logo começou uma discussão na sala, já que havia anotações de diferentes formas, como bolinhas, pauzinhos, algarismos e sequências de números. Todas aquelas formas de registro permitiam saber qual era a equipe vencedora? Era o que todos mais queriam saber. 

Na primeira tentativa, os dois incumbidos de contar os pontos começaram a tarefa pelos pauzinhos e riscaram cada um dos contabilizados, para não se perderem. No entanto, pararam ao chegar aos algarismos, pois não sabiam como somar.

Resolveram contá-los como se cada um representasse um ponto. Os colegas logo interferiram: "Você não pode contar o número 5 como uma coisa...", "São 5 coisas!". 

Andreia convidou todos para realizar a tarefa coletivamente e fez algumas intervenções. Disse que eles deveriam contar os pontos um por um. Então, quando chegaram novamente nos algarismos, perguntou como resolver o problema. Um menino sugeriu transformar o número em pauzinhos, para que fosse possível somar. Todos concordaram e assim foi feito. 

Sobre essa discussão, protagonizada pelos pequenos, Camilla Schiavo Ritzmann, formadora do Instituto Avisa Lá, explica: "As crianças precisam dos pauzinhos para contar, já que não são autônomas nos cálculos numéricos. É importante que se esforcem para criar estratégias, não cabendo ao professor apontar as saídas. No entanto, ele pode retomar o debate no futuro para incentivar a criação de outros caminhos". 

Passados alguns minutos, a docente perguntou novamente qual havia sido o resultado. Ninguém se lembrava, e a contagem recomeçou. Andreia indagou, então: "Que tipo de registro podemos usar para não ter de contar todos os pauzinhos cada vez que quisermos saber a pontuação das equipes?". "Em número, para saber quem ganhou sem demorar", sugeriu Isaac Pace dos Santos, 5 anos. "Senão tem de contar de um em um tudo de novo e demora", completou Thainá de Oliveira Alvarenga, 4 anos. Era o que Andreia precisava para propor que a turma pensasse sobre os registros mais úteis para cada necessidade. Como não sabiam somar, pauzinhos eram bons para contabilizar os pontos. Para o resultado total, números eram mais úteis. 

Na hora de registrar as quantidades finais de pontos, os pequenos foram buscar os valores correspondentes na reta numérica (do 1 ao 50). Uma nova discussão se iniciou. Um grupo havia conseguido 36 pontos e o outro 39. Como o 36 apareceu antes, as crianças acharam, então, que a equipe que tinha conquistado esse total era a ganhadora. Andreia questionou: "Os números maiores ficam no começo ou no fim da reta?".

Elas disseram que ficavam mais próximos do fim, concluindo que o grupo vencedor era o que tinha atingido 39 pontos. Sobre a sequência didática da professora Andreia, Camilla completa: "O que faz diferença para a criança é participar dessas discussões frequentemente. Afinal, uma boa aprendizagem da numeração escrita, abrangendo a compreensão do sistema, influencia na construção de conceitos matemáticos".